Helio Contador: "Tolerância às incertezas"
Devo fazer o teste da Covid-19? E se der positivo e nem percebi que tive esse vírus? Quanto tempo vai demorar essa pandemia? Quanta gente vai ainda morrer? Será que teremos uma vacina em breve? Quando poderei viajar de novo? E a reabertura das escolas, quando será? Quando poderei me reunir com amigos e familiares? Quais serão as sequelas sociais e econômicas?
A resposta para todas essas perguntas e tantas outras é: não sabemos ainda. Essa situação de incertezas cria enorme expectativa, medo e ansiedade. Nosso cérebro não sabe lidar bem com isso, trazendo sentimentos de medo e pânico. E mais: para minimizar o desconforto emocional da espera por essas respostas, nosso cérebro busca possibilidades como assistir desesperadamente os noticiários (que em geral são aterrorizantes), olhar insistentemente as mídias sociais ou buscar, obsessivamente, respostas na internet. Isso pode nos levar a uma espiral emocional negativa e inútil, que causa estresse e traumas emocionais.
Quando as redes neurais responsáveis pela avaliação de ameaças são ativadas constantemente assim, elas acionam os sistemas fisiológicos de resposta ao estresse repetidamente, podendo ativar o sistema hiperativo que vai deixar você em um estado de alerta máximo. Isso cansa, tira o seu sono e pode se tornar um hábito. Conhece alguém com pensamentos sistematicamente negativos e sempre esperando o pior acontecer?
Quero aproveitar aqui alguns pontos de um recente artigo da neurocientista da universidade de Oxford Sarah McKay, que fala sobre a possibilidade de se desenvolver a tolerância às incertezas. Pessoas com baixa tolerância à incertezas podem sofrer impactos negativos na produtividade e na vida pessoal. Já pessoas tolerantes às incertezas têm, em geral, têm bom controle cognitivo e emocional. São capazes de compartimentar seus pensamentos e escolher onde prestar atenção e o que ignorar. São hábeis em regulação emocional e em manter suas respostas “sob controle”.
A boa notícia é que a tolerância à incerteza é como um músculo e pode ser fortalecida. Definir uma agenda diária, fazer exercícios físicos, cuidar do sono e manter a alimentação saudável podem ajudar. Veja outras dicas:
1. Controle o que puder. Criar previsibilidade e ordem vai lhe dar sensação de controle. Mesmo tarefas simples, como organizar pastas do computador e fazer sua cama, criam uma ordem interna.
2. Recompense-se regularmente. Encontre alegria nas pequenas coisas e mergulhe em momentos de prazer. Agende prazeres que você esteja ansioso por realizar. Dê-se “um tapinha nas costas” por um trabalho bem feito.
3. Apoie os outros. Se você está se sentindo sozinho, resista à vontade de olhar para dentro de si em busca de respostas. Tome medidas que ajudam outras pessoas.
Um abraço, boas reflexões e até a próxima.