Um visionário incansável

O homem que, ao lado de Yojiro Takaoka, fundou Alphaville continua ativamente envolvido em projetos urbanísticos. Aos 95 anos de idade, Renato de Albuquerque, concede entrevista exclusiva à VERO para celebrar as cinco décadas de sua maior obra e falar sobre novidades
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Julia
Renato de Albuquerque: museu em Sintra e novo empreendimento em Alphaville são seus novos projetos

EM 1973, o advogado Antônio Pádua Pereira de Almeida, que representava o grupo de herdeiros do Conde Álvares de Penteado, proprietário da fazenda Tamboré, ofereceu ao engenheiro Renato de Albuquerque 4,9 milhões de metros quadrados de terra localizados em Barueri. Em um terreno no meio do nada, a 23 km da capital paulista, junto com Yojiro Takaoka, seu sócio, na Construtora Albuquerque e Takaoka, formataram a ideia de construir o loteamento de casas que se tornaria o maior case de sucesso em bairros planejados do país. Ele nunca parou. De 1973 a 1994 a Construtora Albuquerque Takaoka urbanizou 10 milhões de metros quadrados em Barueri e Santana de Parnaíba. Em 1994, com a morte do amigo e sócio Yojiro Takaoka, a sociedade se desfez. Em busca de novos rumos para seus projetos de urbanização no Brasil, Renato se associou ao advogado Nuno Lopes Alves e fundaram em 1995 a Alphaville Urbanismo. Juntos transformaram Alphaville em uma marca internacional com empreendimentos em todo o Brasil e em Portugal. Em 2017, embarcou em uma nova empreitada com Nuno Lopes Alves e o arquiteto Marcelo Willer, para fundar a Artesano Urbanismo. A empresa chegou ao mercado para apresentar uma nova geração de empreendimentos, bairros planejados, loteamentos e condomínios residenciais. E não por acaso, dois dos projetos da nova marca, hoje em aprovação, são em Alphaville.

Estamos celebrando o 50º aniversário de Alphaville. Em sua trajetória, quais aspectos o senhor considera terem obtido maior sucesso?

O que à época representou uma inovação pioneira, foi a concepção de uma abordagem abrangente de funções locais, em um período no qual predominavam ideias de bairros especializados. Alphaville se destacou por sua abrangência, englobando setores industriais, comerciais e residenciais. A iniciativa liderada pela Albuquerque e Takaoka se mostrou visionária, proporcionando a conveniência de ter todos esses componentes próximos, eliminando a necessidade de deslocamentos extensos. Esse modelo prevalece até hoje. Residentes podem viver, trabalhar, acessar comércio e até escolas, tudo com comodidade e segurança.

Quais elementos considera que não obtiveram o mesmo êxito, ou que, caso fosse possível, o senhor optaria por abordar de maneira diferente?

Ocorreram algumas deficiências, e embora eu representasse a esfera privada, e não pública, fui algumas vezes cobrado como se fosse parte do poder público. Algumas decisões tomadas durante a construção de Alphaville, especialmente em relação à mobilidade e ao tráfego, foram utilizadas pelos empreendimentos vizinhos, mas não de forma a aprimorar as circunstâncias. Esse cenário contribuiu para um aumento na demanda por vias de acesso, sem que aqueles que geraram essa demanda tenham proporcionado ajustes condizentes.

“O fator idade jamais é um critério relevante para mim, uma vez que a morte é um evento natural que não me amedronta.”

Renato de Albuquerque

Dentre as cinco décadas desde a fundação de Alphaville, qual experiência mais significativa o senhor guarda em sua memória?

Um acontecimento notável é que me mudei para o Residencial 1 em 1987, após quinze anos da criação de Alphaville. Todos perguntavam por que demorei tanto para vir morar aqui. Eu ficava apreensivo de que seria responsabilizado por questões ligadas a Alphaville que estavam além de minha capacidade de resolver. Receava a falta de tranquilidade. Contudo, após a mudança, jamais fui instado a contribuir para melhorias ou questões dessa natureza.

Qual é o seu atual projeto profissional em desenvolvimento?

Atualmente, estou envolvido no conselho da Artesano Urbanismo, empresa que está delineando um novo empreendimento nesta região. Também estou engajado na edificação de um museu em Sintra, destinado a abrigar minhas coleções de porcelanas, acumuladas ao longo de minha vida. Em colaboração com minha filha e neta, estamos trabalhando na concretização desse museu, que proporcionará a oportunidade para um público mais amplo de apreciar essas peças históricas, em vez de vê-las relegadas ao esquecimento ou serem transferidas para coleções privadas.

Com 95 anos de idade, o senhor mantém uma notável atuação. Poderia compartilhar um pouco sobre sua rotina de trabalho atual?

O fator idade jamais é um critério relevante para mim, uma vez que a morte é um evento natural que não me amedronta. Recordo-me sempre de um encontro que tive aos 50 anos com um senhor chamado Agapito Lemos. O encontro ocorreu no aeroporto de Rio Branco, no Acre, e naquela época ele tinha 90 anos. Ao perguntar–lhe sobre sua presença naquela região, ele relatou ter adquirido uma fazenda em Tauaracá, que hoje é uma pequena cidade, mas era um vilarejo naquela época. Sua motivação era estabelecer uma criação de gado, fornecer carne a custos mais acessíveis, minimizando os gastos de transporte e promovendo um negócio vantajoso. Sua resposta intrigou-me, e manifestei que tal empreendimento demandaria pelo menos uma década, considerando sua idade avançada. Ele, por sua vez, respondeu que o tempo não constituía uma preocupação, pois não estava pressionado por ele.

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