Os motivos que elevam as taxas de fracasso nas empresas são foco de estudo de especialistas há anos. Decifrar as razões da queda, contudo, é tarefa complexa. Em 2016, uma estimativa de que 67% das estratégias bem formuladas fracassaram por conta de má execução. Um estudo que levou 10 anos par ser concluído, realizado na Navalent, empresa que trabalha com CEOs e executivos que buscam mudanças em suas empresas e líderes, joga uma nova luz sobre o tema.
De acordo com a pesquisa, 61% dos executivos disseram que não estavam preparados para os desafios estratégicos que enfrentaram ao ser nomeados para cargos mais altos de liderança. O resultado faz com que não seja surpresa que mais de 50% dos executivos fracassem nos primeiros 18 meses após serem promovidos ou contratados. “Nomear essa quantidade de líderes despreparados para cargos em que são responsáveis por elaborar e executar estratégia somente alimenta o risco de uma execução fracassada”, diz Ron Carucci, um sócios da Navalent, em artigo para a Harvard Business Review.
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Carucci é autor de oito livros que constam nas listas dos mais vendidos, incluindo o recente “Rising to Power“, o mais vendido na Amazon. Ele comenta, neste artigo, 4 dos sinais mais comuns de que o executivo está propenso a fracassar ao tentar colocar em prática a estratégia da empresa. Compartilho aqui algumas lições do mestre:
1. Falta de intensidade no contexto competitivo
Assumir cargos de liderança mais amplos normalmente resulta em maior isolamento para os líderes. Seu foco é atraído para assuntos internos: resolver conflitos, ajustar orçamentos e administrar desempenhos. Consequentemente, eles prestam menos atenção a assuntos estratégicos externos como atividades dos concorrentes, necessidades dos clientes e tendências tecnológicas. Um estudo demonstra que 70% dos líderes gastam, em média, um dia por mês revisando estratégias e 85% das equipes de liderança passam menos de uma hora por mês discutindo estratégia.
2. Ingenuidade ou desonestidade nas concessões
“Estratégia, em seu nível mais básico, é um conjunto de escolhas e concessões em relação a onde uma empresa vai investir, competir e vencer”, define Carucci. Em organizações mais complexas, isso quer dizer que todo “sim” dado para uma ideia exige um “não” para várias outras, para assegurar o sucesso da primeira iniciativa. Limitar o número de compromissos exige concentrar todos os recursos em um conjunto seleto de prioridades, deixando de lado outros esforços. Por isso, saber dizer não, ensina o autor, é um dos grandes presentes que um executivo pode oferecer para sua empresa.
3. Deixar antigos projetos organizacionais em ordem
“Você deve ser capaz de observar como a empresa é organizada e imediatamente notar o que procura conquistar. Para muitos líderes, o único expediente que sabem usar é o organograma. Eles mudam as peças da hierarquia como se isso pudesse alterar o desempenho”, continua ele. O problema é que, assim, grandes executivos tornam-se “arquitetos organizacionais”, olhando sistematicamente para as habilidades — processos, administração, cultura, competências, tecnologias — as incluem na máquina organizacional elaborada para uma estratégia específica. CEOs menos capacitados teriam, ingenuamente, tentado impor processos padronizados ou sistemas de incentivo agressivos sobre o projeto da holding como forma de forçar uma coesão, e teriam, no fim, fracassado.
4. Não conseguir suportar o custo emocional
“Oferecer concessões significa dizer não para as pessoas e enfrentar as inúmeras formas disfuncionais com que elas lidam ao sentirem-se decepcionadas com seus líderes”, finaliza Carucci. Mudar projetos organizacionais, reforça ele, significar ter de lidar com a dura realidade da promoção de grandes mudanças. Não surpreende que doenças ligadas ao estresse físico e mental tenham altos índices entre executivos. No estudo da Navalent, 38% dos executivos disseram que não esperavam a solidão que acompanha seus cargos.
Diante desses sinais, as empresas que verdadeiramente investirem na preparação de executivos, às reais exigências desses cargos, colaborariam para uma queda nas taxas de fracasso – e para uma prosperidade mais consciente.