Bia Garbato: "A maternidade nos tempos de iPad"

Filho não dá trabalho. Para os tios. Desde que começou o “terrible two” não parou mais. Eu já estou no “terrible eight”.
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Bia Garbato

Quem tem filho na escola sabe: porta da escola e WhatsApp das mães, é confusão na certa. Outro dia saindo do colégio, meu filho me perguntou: “por que o nosso carro não é grande como o das outras mães?”. “Filho, eu até gostaria de ter uma SUV gigante. Quem sabe até branca perolada. Mas se já não sou uma grande motorista do meu carrinho compacto, imagina eu estacionando um carro grande”. Passados alguns dias, ele me perguntou: “meu amigo já foi seis vezes pra Disney. Por que que eu fui uma vez só?”. “Filho, um dia a gente vai, mas não vai ser na quarta que vem”. E emendei tentando ser convincente: “No feriado nós vamos para Juqueí, não é legal?”.

Filho não dá trabalho. Para os tios. Desde que começou o “terrible two” não parou mais. Eu já estou no “terrible eight”. Às vezes me perguntam: “você não tem babá? Não, eu tenho iPad”. Isso quando meu filho não me diz: “mamãe, o iPad tá dando pau”. E eu de pronto respondo: “se ele der pau quem vai dar pau sou eu, meu filho”. Outro benefício do iPad, mais precisamente do Youtube, é seu filho começar a te chamar de “produção” e pedir likes como um youtuber. E quando você pede pra desligar, já que o aparelho está fervendo: “o jogo é online, mãe, não dá pra pausar”. Ah tá.

Tem dias que a gente não sabe se pega no judô, leva na festinha, vai ao cabeleireiro ou salva o mundo. O cardápio aqui em casa é um desafio. Brócolis ficou para a próxima encarnação. Eu estou tentando transformar legumes em Kriptonita desde 2012. Por ele o café da manhã é Nutella, o almoço Salamitos e o jantar Frutilli. Fora do iPad a vida também não é fácil não. Levar um tiro de Nerf no meio dos óculos só faz parte da guerra do dia a dia. A tão sonhada bicicleta virou um presente de grego perto de um controle do Playstation.

Eles querem ser tratados como adultos, então não deixam você entrar no banheiro. Mas dá cinco minutos e eles chamam: “manhê…” e você vai resignada limpar. Na hora de dormir, querem histórias de terror. O terror pra colocá-los pra dormir depois, são ossos do ofício. Aliás, é uma graça vê-lo dormir com o pijama do Batman, sabendo que mais pra frente ele vai trocar por uma samba-canção. Do Batman. Homens… Hoje eu não tenho mais medo de pernilongo, barata, largatixa… Eu tenho medo do Pikachu, do Charmander, do Dragonite. Maternidade não é para todo mundo, não. Toda mãe de menino sabe: sentar na privada distraída é bunda molhada na saída. 

Sonho com o dia que vou acordar e encontrar meu filho vestido com a roupa que ele mesmo escolheu, com o café da manhã tomado, dente escovado de verdade, quarto arrumado por ele, mochila nas costas, prontinho para ir à escola. E depois de um tchau emocionado, vou me jogar no sofá, ligar a TV, tomar um suco verde até me dar conta apavorada: virei mãe de um adolescente

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